plural

PLURAL: os textos de Juliana Petermann e Eni Celidonio


Maternidade e pandemia
Juliana Petermann 
Professora universitária

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De acordo com o IBGE, 40% das mulheres dedicam seu tempo ao cuidado, principalmente dos filhos. Com a pandemia, esse cenário se agravou e a falta da rede de apoio resulta em sobrecarga para as mulheres. Para analisar este cenário, convidei a professora Milena Freire Cruz, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), embaixadora do movimento Parent in Science na região sul e responsável pela pesquisa "Maternidade e uso das redes em tempos de pandemia", que contou com mais de 2 mil respondentes.

QUAL FOI O OBJETIVO DA PESQUISA?

Com a pandemia, e a clara concentração de trabalho das mães em razão do confinamento familiar, percebemos a necessidade de investigar como a quarentena tem refletido na experiência cotidiana e na compreensão das mulheres sobre a maternidade. Aplicamos o questionário em todo o Brasil, em julho, e os resultados revelam uma situação delicada para as mães entrevistadas: a maior parte delas (67%) precisou adaptar o trabalho remunerado ao doméstico em razão do isolamento social. Por outro lado, mesmo que 83% da amostra seja composta por mulheres casadas, 51% delas afirma que o cuidado com as crianças nesse período é um trabalho exclusivo ou, prioritariamente, seu. Entre os sentimentos mais citados pelas entrevistadas estão a sobrecarga (53%), falta de tempo para ficar sozinha (51%) e culpa por não ter tempo de dar mais atenção aos filhos (34%).

O QUE OS DADOS REVELAM?

Na prática são as mães que têm sofrido os principais impactos do ponto de vista do trabalho (remunerado e doméstico). Além de estarem atuando na linha de frente no combate à covid ou na manutenção da rotina de várias instituições e famílias (enfermeiras, professoras, cuidadoras, empregadas domésticas, profissionais de limpeza têm um maior contingente de mulheres), são elas que têm assumido a maior parte das atividades domésticas e dos cuidados com os filhos. 

Esses dados reforçam a necessidade de trazermos para a pauta questões de gênero que são invisibilizadas socialmente. Essa desigualdade vivida pelas mães é fruto de discursos que sustentam a ideia de abnegação, doação, habilidade multitarefa: dinâmicas que sugerem a mãe como única ou principal cuidadora dos filhos (e da família). O resultado é uma sobrecarga física e emocional que é pouco debatida nos âmbitos doméstico e público, porque traz a necessidade de desvelar temas sensíveis como o amor materno e a divisão sexual do trabalho. Nossa intenção, com a pesquisa, em andamento, é colaborar com esse debate.  

O tempo não para
Eni Celidonio 
Professora universitária

style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">Eu sempre ouvi dizer que se uma mulher conta a sua idade, ela é capaz de contar qualquer coisa.

Eu nunca entendi isso, porque a gente tem carteira de identidade e por mais plásticas que a gente faça, a data de nascimento não aceita recauchutagem. Talvez, isso seja uma característica de quem vive Literatura o tempo todo, a gente lê tanta ficção que acaba achando que às vezes é preciso um pouco de verdade.

O mínimo que se pede às mulheres que mentem a idade é que elas prestem atenção: se contam ao João que têm 41, não contem ao José que têm 45; se têm 42 em 2019, não podem fazer 40 em 2020. É o mínimo! Tem que prestar atenção nisso...

Por exemplo: eu tive uma colega no curso primário chamada Ângela. Ela era uma das colegas mais feias que eu já tive. Está certo, isso não é politicamente correto, mas estou falando da década de 1950 e naquela época não tinha nada disso. Pois bem, a gente frequentava a mesma praia e nossos colegas chamavam a pobre criatura de "mal acabada", "de costas ainda vai" e outras menos votadas. Nem vem dizendo que isso é bullying, porque não tinha isso também: eu era dentuça e sardenta, eu pulava muito nos jogos de vôlei, porque além de tudo eu era nanica, portanto no vôlei eles gritavam "prá mim perereca sardenta" e eu, simplesmente, fazia a egípcia e mandava a bola. Mas o papo não é esse, deixem eu contar a minha história.

MÁGICA?

A Ângela cresceu e a feiura cresceu junto com ela. Ela era muito alta e meu pai dizia que mulher alta não pode ser feia, porque quanto maior, mais feiura ela carrega. Chegou a época do ginásio e, com ela, a desgraça do admissão. Eu passei no Pedro II e ela no Santa Marcelina. Eu encontrava com ela na praia e às vezes pelas ruas do bairro. O tempo passou e fizemos vestibular. Eu passei em Direito na UFRJ e ela foi fazer Direito no Santa Úrsula - dizem as más línguas que ela passou na faculdade porque o pai, que era dono de uma ferragem, doou tijolos e telhas para as obras das freiras (estou vendendo o peixe que eu comprei)...

Terminamos a faculdade e nos casamos na mesma época. Como vocês podem ver, a gente se conhecia desde os sete anos. Pois bem, vim morar no sul e ia ao Rio todo ano. O Bruno, meu filho, devia ter uns 10 anos e encontro a Ângela com uma bebezinha linda no carrinho. Nós nos cumprimentamos e ela me contou que preparava uma grande festa de aniversário e me convidou para comemorar com ela os seus 33 anos... Breque: se eu tinha 37 anos, como ela ia fazer 33? Que mágica é essa? Ela entrou na escola com três anos? É uma versão tupiniquim de Benjamin Button? Como assim?

A criatura se negava a sair dos 30. Agora, por exemplo, acho que ela deve estar comemorando os seus 34 anos, depois, 35, e por aí vai. Só pode! Como dizia o poeta Cazuza...



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